sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cotidiano versos brancos

Mas como pode ser

perdendo esses versos?

Como pode ser?,

fugindo e sem os restos.

As palavras não encaixam.

Céus, não encaixam

Cerebro revirado.

Como escrever

sem sentimentos?

Como pode ser?,

sem lamentos.

A poesia incompleta

em rimas tanto fracas.

Poesia incompleta

casual, desengonçada.

Samba-rock

Quando a conheci

usava sapatos vermelhos,

vermelhos como sua boca

e de tão negros cabelos.

Ria com deleite

da vida que gozava.

Você urgia prazer

e eu urgia sua alma.

Contava suas histórias

de viagens e amores,

eu escutava e planejava

te conquistar lhe dando flores.

Você tinha as unhas amarelas

e uma camisa de banda.

Eu não sabia quem eles eram

pois eu só escutava samba.

Eu era bossa nova,

você era rock'n'roll.

Um samba rock sem chorinho

era agora o nosso som.

Desventura de Fridda

Fridda era viciada em besouros e borboletas. Todas as
sextas ela saia com seu pote e sua vara para pegar,
olhar e devolver os bichinho. Seu quarto era recheado de fotografias
de borboletas de várias cores, tamanhos e tipos,tamanha era sua paixão por elas.
Certa sexta-feira, fazendo o que ela sempre fazia, pegou
uma borboleta azul clarinha, linda e brilhante. Resolveu gastar horas olhando a pequenina. Depois de quase 3 horas, começou a conversar com ela. Fridda poderia
estar exausta, drogada ou maluca; até onde a ciência sabe, não é normal travar diálogos com outras espécies.
-Olá Fridda!
-Como sabe o meu nome? Você fala?- perguntou para a
borboleta, com uma cara de susto e ao mesmo tempo
fascinação.
-Eu só posso falar com você- disse baixinho- Mas, por que você
me olha tanto?
-Você é tão bonitinha, não é uma borboleta qualquer. Por
falar nisso, qual o seu nome amiguinha?
-Chamo-me Jamille! Obrigada pelo elogio, gostaria de
conhecer minhas irmãzinhas?
-Adoraria.
Jamille foi na frente, guiando Fridda no meio da mata.
Ela já estava tonta pelo brilho da borboleta, mas, seu
corpo era obrigado a seguir aquele feixe de luz azul
clarinha.
Foram indo cada vez mais para o meio da mata. Até que
chegaram em um precipício.
-Venha Fridda!- disse a borboleta
Sem exitar, já hipnotizada pelo encanto da sua nova e duvidosa amiga,
ela foi. Botou seu pé para fora na grama e caiu.
Não chegava ao chão, as cores se misturavam, a borboleta
cantava e ela apenas sorria, sorria para a morte.
- Talvez besouros sejam mais leais. - Disse pela última vez Fridda.

Alma de piano - prévia.

Então caia mais um floco de neve que regava o inverno. O chão estava coberto por inteiro e o conservatório de música fechava para o natal. Any, era assim que todos haviam me apelidado, proveniente de Anya. Eu descia correndo a grande escadaria central de madeira tentava alcançar meu professor de harmonia: Chekhov. Era um homem que se vestia de maneira muito pomposa, sempre com um belo par de sapatos e um relógio de bolso, sua aparência séria era resultado de uma alma fechada e erudita: um homem muito elegante e de tez extremamente clara. Bom, digamos que este mesmo senhor não possuía muita simpatia por mim, não devido a minha aparência, mas sim pelo meu perfil muito contestador. Fisicamente eu era até simpática; cabelos ruivos e ondulados, mantidos sempre curtos, algo extremamente ousado tendo em vista que todas as outras mulheres possuíam cabelos que lhe vestiam os ombros; minha cor era clara e avermelhada devido ao frio intenso; olhos cor de mel que brilhavam o tempo todo.

-Mestre! – exclamei ao chegar ao final de um lance de escadas. O senhor Chekhov apenas virou os olhos com um leve movimento, como se não lhe interessasse saber quem lhe chamava.

-Céus, o que foi desta vez senhorita Sierakowski? – disse ainda virado para frente.

-Eis aqui minha composição... Aquela que havia perdido em meu caderno durante a aula.

-O prazo para me entregar era até o termino da mesma, sabes disso, por que abriria uma exceção a esta regra ainda mais para a senhorita?

-Pois o senhor sabe que sou uma aluna extremamente dedicada em aprender canto e eu adoraria ter um histórico acadêmico impecável!- falei ao esboçar um sorriso de sarcasmo em meu rosto.

-Sei muito bem... Por isso mesmo dar-te-ei uma chance de desfrutar de seu anseio não almejado. - exclamou a virar-se totalmente e descer as escadas enquanto ria quietamente.

Não conhecia muitas pessoas ainda no conservatório, mesmo estando lá a cerca de dois anos. A maioria eram rapazes, nada mais natural, só conversava com minha irmã durante o ano letivo, minha mãe não autorizava amizades masculinas. Seu nome era Lubmilla, cursava piano: ela tinha o cabelo castanho que descia aos seios e chegavam-lhe a cintura, pele um pouco mais amorenada que a minha, olhos escuros e amendoados. Seu maior sonho era tornar-se uma bailarina, porém havia idealizado muito tarde. Lubmilla era mais fácil de lidar do que eu, porém era um tanto mimada por ser a filha mais nova. Ela era a mais bela, a mais querida entre a maioria das pessoas, respeitava as vontades de meus pais, no entanto, quando soube que eu havia conseguido convencer nossa família ao autorizar a minha entrada no conservatório de música, fez o mesmo iniciou um ano depois. Lubmilla era um bom partido.

-Lubmilla!-gritei ainda da escadaria para minha irmã que passava perto.

-Any, o que queres?

-Minha irmã, já arrumou suas coisas?

-Ainda não, mas estava indo fazer isso nesse instante.

-Sabes que o conservatório vai fechar ao final do dia, e agora já passa das três horas.

-Sim, mas mudando o foco da conversa, conseguiu entregar sua composição a Chekhov?

-Aquele senhor é um crápula, deu-me uma resposta desaforada e saiu andando.

-Achas que não alcança um bom resultado?

-Não sei, tudo depende do humor de Chekhov. Pois, vamos agora, Dominique estará nos esperando em casa!

Lá estávamos nós, duas irmãs muito diferentes descendo as escadarias grandiosas do conservatório enquanto puxávamos, empurrávamos e carregávamos nossas pequeninas malas. Todos estavam se despedindo entre os corredores, a maioria das tochas que iluminavam o ambiente já estavam sendo apagadas pelos funcionários do local: era a maneira gentil e eficaz de expulsar a todos.

-Ali Lubmilla, chame aquela!- falei ao apontar uma das últimas carruagens que restavam.

-Senhor!- gritou minha irmã ao fazer sinal com a sua mão - Aqui!

-Mas o que duas moças fazem neste conservatório de música recheado de rapazes?- foi a primeira coisa dita pelo chofer.

-Música, senhor! Eu estudo canto e minha irmã piano.

-Nada convencional, minhas damas.

-Por isso que é tão fascinante. – retruquei-lhe ao bater a porta de sua carruagem.

Calma brisa

O céu vai se arrastando e
pensamento vem sem fim.
As nuvens correm brandas
para mim sempre assim.
O vento carrega o cheiro
imaginado de meu bem,
numa brisa tanto densa
e meu peito vai além.
Voa longe, vai planando,
sentimento voa daqui.
Sem vestígios ficam os sonhos
que guardava para mim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A jovem escritora

Ela era uma alma jovem, com timidez.
Foi o medo que recolheu seu estoque
e se escondeu em uma gaiola imaginária.
Triste menina, vivia na sombra das canções.
Retirou-se ao mostrar o seu mundo
e mostrar como ele funcionava.
Ficava em último por se colocar em último.
Sombria de pensamento, pessimista,
era horrendo.
"Mas como entregar-me à vida?
Mas como este, sem talento?
E como, por fim, suportar a ausência
do que anseio? Como enfrentar tudo sem poder?
Fico escondida, sonhando com o dia em
que alguém mostrará para mim que sou boa.
E espero esse dia, até a noite em que eu morra."

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meia idade de Antônio

Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, sem emprego.
Seu sustento era a mesada modesta que ganhava de sua mãe, uma funcionária pública.
Todos os dias ele fazia as mesmas coisas: acordava, tocava seu piano velho e desafinado,
lia sobre coisas que ninguém mais queria ler e dormia assistindo televisão.
Já tinha tentado a faculdade quando mais moço: faculdade de música. Na época passara quase
na última posição. Seu desespero surgiu junto com a mocidade. Ele até havia atraido algumas garotas, principalmente suas amigas, contudo, não havia amado ninguém. Existiu apenas uma moça que tinha despertado um estranho sentimento em sua seca alma: Luíza. Ah, Luíza era tão inteligente, não tão bonita, mas com olhos azuis que só vendo. A jovem era muito parecida com Antônio; era maravilhoso, todavia era um problema. Antônio e Luíza gastavam horas discutindo sobre astrologia, artes, música e até política. Era esse o maior charme da relação, eles adoravam. O que o jovem dizia era contradito por Luíza, assim ambos se conheciam e conheciam o mundo. Ele dizia que amava, mas achou um dia que deixou de amar,
para no outro dia dizer que nunca amou. Ela dizia que não amava, mas achou um dia passou a amar, para depois dizer que nunca amou. Luíza se formou, conseguiu grandes amigos e uma família. Antônio largou a faculdade e largou todas as mulheres que enamorou. Sem dúvidas ele amava a música, mas também amava as artes visuais; o grande dilema de sua vida foi decidir qual seguir. Era ambicioso aos 20, mas a insegurança fez com que deixasse tudo de lado.
A criatividade e o pouco talento que possuía foram se ofuscando, dia após dia. Veio a nostalgia.
Certamente isso impediu com que ocorresse o amadurecimento natural da vida. Antônio se dizia feliz como estava, sem mulher para dar-lhe ordens, sem um emprego para dar-lhe trabalho e sem filhos para dar-lhe dividas. Realizara quase todos os seus sonhos de jovem, exceto a carreira profissional. Sonhara em ser maestro, mas teve dificuldades no período que cursou faculdade e medo de não conseguir. Então Antônio parou em frente ao piano desafinado e tocou desafinadamente. Sonhou.
Seu sonho no momento foi: como seria sua própria vida com uma mulher, poderia ter sido Luíza.
Também pensou nos filhos que teria com ela, de grande alvura e belos. "Poderia ter sido bom", exclamou.
Então Antônio lembrou do seu maior sonho, o sonho de ser maestro. Foi tão lindo o que ele imaginou em frente ao piano que pôs-se a chorar e tocar uma música de Debussy. Percebeu que vida medíocre ele tinha construído.
Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, que se jogou da janela do sétimo andar depois de tocar uma sonata.