terça-feira, 31 de maio de 2011

Cachorros bípedes

Estava na sala de aula,
observando.
Não só apenas a aula,
Mas todas as peças
que a compunham.
É engraçado observar as pessoas.
Somos os animais mais adestrados
que existem.
Punimo-nos, agradamo-nos
e mentimos por um osso.
Somos cachorrinhos, nem sempre
com pedigree, de nós mesmos.
Na tal aula não corria diferente.
Quando algo era chiste, cada um dos
animais humanos procurava um
outro para cruzar o olhar e rir em conjunto.
Quando algo surpreendia o mesmo acontecia.
Pude notar o quão carente somos, e também
o quão ‘’cachorrinhos’’ acabamos ficando.
Não gosto muito de cachorros.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Síncope

Segurava-me
por mais um compasso.
Então, meio torta e,
até dissonante por horas,
eu ficava soando.
Às vezes eu notava que
eu começava a desaparecer,
suavemente.
Tudo ao final de mim se
resolvia, eu já não
estava mais lá.
Segurava-me em outro compasso.

sábado, 14 de maio de 2011

Transparência existencial

E eu sou invisível no
meu próprio mundo.
Não sou tão esforçada
quanto a Gizele,
não toco tão bem
como O Artur
e não tenho talento
como a Lígia.
Minha fala é,
em demasia, atrapalhada.
Minha auto-estima
é totalmente destroçada.
Não tenho o sorriso do Flávio,
não tenho o corpo da Elis.
Eu não tenho,
eu não sou,
eu lamento,
eu ainda não sou o meu autor.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Idéias de papel

Não é ausência de idéias,
é a confusão das mesmas.
É a mente inquieta e o
corpo mole que descompensa.
Os braços choram
enquanto a poesia satisfaz.
As mãos se quebram e
a harmonia se refaz.
Uma folha vazia se enche
de universos, e o corpo, lento,
adormece por completo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Maestro

Shiiiu, vai começar.
Mãos erguidas e o um.
Infesta tudo de sons;
respira, toca, solfeja.
Os fraseados nos braços,
dois, três; sopra o vento.
Os ataques nos olhos,
áspides acordes.
Corre suave,
gestos gentis.
Todos já sabem;
fermata.