terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um ingênuo e fechado Coração.
Estava trancado com 7 chaves, isso já tinha alguns anos.
Ninguém sabia o segredo para abrir, sabia-se, somente, que era um
terreno perigoso para se aventurar.
Até que um dia, por vontade própria, deixou-se bater por um
simpático e esperto rapaz. Seduziu-lhe com palavras e sua abstração.
Tais características deveriam ter servido como alerta, contudo o
ingênuo coração acreditava estar no comando. Cria ele que suas grades,
como de costume, cercaria e expulsaria o intruso, tal um vírus.
A fuga costumeira mantinha-se lá, tornando plausível o histórico.
Aconteceu que, em algum momento do pulsar bombeou empatia, a mais
genuína e involuntária. As grades caíram, os segredos foram revelados
na face e o perigo, que antes oferecia aos outros, mudou de direção.
O único capaz de ferir-se era o prepotente Coração. Mas, como não
queria saber de dor, ele negou, flertou e renegou todos os sentimentos
despertados pelo jovem simpático. Até que sentiu ciumes. "Mas que
insolência, aquieta-te", pensou o Coração. Pensar não convinha,
além disso, era mais ilógico que sentir. Em alguns devaneios ele criava
asas, descasava de todo o medo, apegava-se firmemente ao deleite de tudo.
Logo acordou, e percebeu que uma conversa fazia-se necessária.
O coração, acovardado, revelou tudo ao rapaz esperto e, mesmo descrente,
consolava-se imaginando que tudo seria tal como os devaneios.
Nada é como os sonhos e, durante a proza ele chorou, chorou sem querer.
Depois enganou o mundo fingindo estar saudável. Ainda não tinha a receita
de como curar-se. Sofria em silêncio, batia bem baixinho, mas ainda sim
ele pulsava pelo rapaz.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Valsa do solitário

A vida passava pela janela
e o tempo pelo relógio.
O solitário só contava compassos,
estes onde ele não estava.
Por vezes, quando chovia, aparecia
uma flauta querendo brincar.
Brincava de escorregar nas notas
e fingia ser uma gota.
Logo o silêncio habitual regressava,
fúnebre, fugaz;
o som era apenas dos segundos.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac; soava
a valsa, um ternário composto.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac;
ponteiros dançavam a dança dos tolos.
Já o solitário olhava, pensava e
contava.
Suas pausas nunca acabavam.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tomei a musica de outro,
para lembrar de você.
Apaguei as memorias do som
para nele te escrever.
Fiz um poema, um tanto fraco,
dos abraços que me deu.
Cozi um doce bem amargo
do meu beijo que foi seu.
Tudo fica torto,
engolindo as palavras.
Mas não há mal nos versos
quando se está apaixonada.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Acaba, sem querer,
o meu quase romance.
Deixa-me, sem saber,
o meu homem dissonante.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O meu casal apaixonado

É tradição, um dia você
será a sobra da relação.
O meu casal apaixonado
é, em demasia, apegado.
Em demasia irraciocinal
e perturbado.
O meu casal é doente,
daquela doença chamada
amor, nada latente.
E, quando vivo com esse
amor, não há ardor que
acalente a minha dor.
Não há palavra que rime,
a poesia perde o vime.
O meu casal apaixonado
esbanja alegria e beijos,
não há pudor nos desejos.
Ah, o meu casal,
onde eu não caso, finjo
descaso e então me calo.
É o casal que me detém,
mesmo eu não sendo casal
de alguém.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Qual a razão de tentar encontrar alg(uém)o que eu sei que não existe?