sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Por favor, não se interesse por mim assim.
Por favor, não se apaixone antes de mim.
Por favor, não me beije antes que eu cerre os olhos.
Não se movimente. Apenas fique parada
e me deixe analisar todos seus vértices
até encontrar algo que me leve aos seus lábios.
Por favor, não fuja quando eu finalmente perceber.
Por favor, não me mostre suas fraquezas e,
por favor, ignore as minhas também.
Sejamos as duas perfeitas como Monet,
sejamos as duas distantes sem miopia.


Ultimamente apenas sei dos meus instintos, só sei de comer, dormir, comunicar-me com os mais próximos e, raramente, lembro de respirar. Sei que meus dedos coçam para que as palavras saiam, sei também que não há nada para ser escrito por mim. Só sei dos meus instintos e, sim, escrever é um deles, criar é um deles. Tão básico quanto minhas sagradas refeições, feitas sempre nos mesmos horários; e tão fundamental quanto dormir, se não mais. Esse texto é meramente reflexo de algo inerente da existência, vago e vazio, mas como posso engolir a vida sem excretar de alguma forma? Eis aqui um montante de merda. Chamo de ação e reação, sem teor poético ou opinião. Penso que se assemelhe a dormir sem expectativas para o que virá a seguir, comer apenas para saciar a fome e falar apenas por obrigação social. Animal. Virei agora um animal? Biologicamente sempre fui um, mas há essa linha que separa o "ser humano" da simples existência. Só sei dos meus instintos, apenas existo. Existo como uma zebra que busca por algo e vaga sol à sol, que foge das ameaças. Então sim, virei um animal. Sei que a vida assim acontece sem maiores problemas e preocupações. Contudo, sei também que a vida passa sem maiores feitos, passo por esse mundo como um sopro, insignificante. Creio que ambição não me torna mais humana, objetivos seriam como migrações na primavera, previsíveis e naturais. Não é qualquer pensamento que me faça ser algo além. Talvez por isso tantas pessoas buscam o amor, para deixar de apenas ser, apenas comer, apenas dormir, apenas ser vago. Qual meu valor se não crio?, se vivo apenas por instinto. Em uma tabela do mercado negro talvez eu encontrasse um número satisfatório pelo que a minha juventude e pulmões virgens guardam pra mim. Talvez assim meus órgãos maquinassem ideias melhores, entrassem para a história, talvez assim parte de mim fizesse algo. Estacionada, andando em círculos, sendo redundante. Ultimamente apenas sei dos meus instintos. Travo duelos internos diários que, sem sucesso, tornam-me cada dia mais obsessiva e vaga. E qual é o problema em fazer parte desse organismo imenso que chamamos de Terra? Qual o problema em ser uma célula?, ali desempenhando sua função, existindo. O problema é ser apenas adubo, crescer por outros, para fora. Urjo crescer pra dentro, escavo meu cérebro todos os dias na esperança de encontrar algo com valor, algo que possa lapidar e, se possível, deixar brilhar. Infelizmente, ultimamente, apenas vejo os meus instintos, acompanho e espero que algo me tire deste tempo cíclico. Ultimamente tenho sido um círculo que procura um ponto que se abra e me torne uma reta.