quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meia idade de Antônio

Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, sem emprego.
Seu sustento era a mesada modesta que ganhava de sua mãe, uma funcionária pública.
Todos os dias ele fazia as mesmas coisas: acordava, tocava seu piano velho e desafinado,
lia sobre coisas que ninguém mais queria ler e dormia assistindo televisão.
Já tinha tentado a faculdade quando mais moço: faculdade de música. Na época passara quase
na última posição. Seu desespero surgiu junto com a mocidade. Ele até havia atraido algumas garotas, principalmente suas amigas, contudo, não havia amado ninguém. Existiu apenas uma moça que tinha despertado um estranho sentimento em sua seca alma: Luíza. Ah, Luíza era tão inteligente, não tão bonita, mas com olhos azuis que só vendo. A jovem era muito parecida com Antônio; era maravilhoso, todavia era um problema. Antônio e Luíza gastavam horas discutindo sobre astrologia, artes, música e até política. Era esse o maior charme da relação, eles adoravam. O que o jovem dizia era contradito por Luíza, assim ambos se conheciam e conheciam o mundo. Ele dizia que amava, mas achou um dia que deixou de amar,
para no outro dia dizer que nunca amou. Ela dizia que não amava, mas achou um dia passou a amar, para depois dizer que nunca amou. Luíza se formou, conseguiu grandes amigos e uma família. Antônio largou a faculdade e largou todas as mulheres que enamorou. Sem dúvidas ele amava a música, mas também amava as artes visuais; o grande dilema de sua vida foi decidir qual seguir. Era ambicioso aos 20, mas a insegurança fez com que deixasse tudo de lado.
A criatividade e o pouco talento que possuía foram se ofuscando, dia após dia. Veio a nostalgia.
Certamente isso impediu com que ocorresse o amadurecimento natural da vida. Antônio se dizia feliz como estava, sem mulher para dar-lhe ordens, sem um emprego para dar-lhe trabalho e sem filhos para dar-lhe dividas. Realizara quase todos os seus sonhos de jovem, exceto a carreira profissional. Sonhara em ser maestro, mas teve dificuldades no período que cursou faculdade e medo de não conseguir. Então Antônio parou em frente ao piano desafinado e tocou desafinadamente. Sonhou.
Seu sonho no momento foi: como seria sua própria vida com uma mulher, poderia ter sido Luíza.
Também pensou nos filhos que teria com ela, de grande alvura e belos. "Poderia ter sido bom", exclamou.
Então Antônio lembrou do seu maior sonho, o sonho de ser maestro. Foi tão lindo o que ele imaginou em frente ao piano que pôs-se a chorar e tocar uma música de Debussy. Percebeu que vida medíocre ele tinha construído.
Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, que se jogou da janela do sétimo andar depois de tocar uma sonata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário