domingo, 25 de dezembro de 2011

Para envolver o pescoço.

Presenteei com um colar no natal
o homem que me deu ilusão.
Aquela ilusão doce de apaixonado,
com beijo e andar de mãos.
Nosso jazz era um tango, cheio
de fugas e mentiras.
Dei aquele colar como uma chave,
chave das minhas agonias.

Cotidiano ambivalente

Todo dia eu penso em desistir
de tentar gostar de você.
Com a mesma frequência eu
entrego o meu coração.
Todo dia você me agoniza
e me sufoca.
Sufoca com falta de noticia
e por me abraçar forte.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Desemprego pessoal

O que eu fiz com isso tudo?
Tenho dom para estragar as coisas,
as melhores coisas.
Quando o mundo assusta não
é difícil fugir.
Dos amores que estraguei, o que
me entristece foi aquele Pimentel.
Nas outras coisas sou acomodada,
finjo à mim que faço o meu melhor.
O que eu fiz com isso tudo?
Pareço ser indigna ao meu cargo,
meu cargo de pessoa.
Ser matéria e pensamento
custa para quem filosofa.
Não vivo, não sou humana.
Eu acabo quando as coisas começam,
eu nunca existi.

Verão

O ar árido e quente
anuncia falsa tempestade.
O Sol que arde a pele
brilha contra a vontade.
Nenhum eclipse salvará,
ele chega em 139 anos.
Nenhuma nuvem se arrisca,
nem mesmo com alguns cantos.
As preces entediam o pai.
Ele escuta isso todos os dias
Chora e arde, não vai chover.
No concreto não vai anoitecer.
Reza, cangaço; reza, cidade.
O outro dia vem para raiar.
Reza, Antônio; reza, Marina.
Como se a reza fosse adiantar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O sangue pesa demais
para os meus musculos quebrados.
Os ossos rangem.
Sou o sinônimo de mediocridade.

mediocridade

me.di.o.cri.da.de
sf (lat mediocritate) 1 Estado ou qualidade de medíocre. 2Poucos haveres, mas suficientes; mediania. 3 Falta de mérito, vulgaridade. 4 Pessoa ou coisa medíocre.

Nota estranha

As notas estão te fazendo mal.
Deixam-na febril e com urticária.
Você é a dissonância do eixo,
aquela não resolvida, desnecessária.
A sequência soa bem quando você
não tensiona a música.
Sua nota é grave e pesada,
a melodia é leve e aguda.
Ninguém resolve a sua perturbação
e, sozinha, não passa de uma segunda,
segunda menor.
A coisa mais próxima de você
é você mesma, cromático indesejável.
És um crime no contraponto modal.
é apenas uma cacofonia contemporânea
de uma péssima música tonal.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Egoísmo da madrugada.

Edgar estava de noite. Escutava
música francesa enquanto tomava
café de madrugada.
O quarto onde estava era pequeno
e mal mobiliado, quem ligava?
Haviam coisas mais importantes,
como a caixinha de recordações.
Ela guardava cartas que, outrora,
recebera, nunca mais se repetiu.
O violão desafinado o encarava,
suplicando alguns dedilhados.
Edgar mantinha-se à escrever.
Era a única forma de tirar Sofia
da cabeça, passava para o papel.
Sofia não era bonita, mas inteligente.
Quase ninguém a notava,
mas Edgar notou.
Esse fora o pior erro dele.
Outro homem, mais rápido,
namorava-a.
A luz mantinha-se apagada.
Sofia não falava mais com Edgar,
a distância doía roubando a atenção dele.
A paixão pode ser muito egoísta,
uma noite inteira para Sofia, sem Sofia,
é algo injusto.
Edgar pretendia parar com isso, estava
esperando o sentimento esgotar-se.
A caixa de recordações recebia
a luz da lua.
Ele lembrava o tempo todo de coisas de amor.
Sofia.
O violão ficava apagado e chorado.
Edgar tinha esquecido de todo o resto,
exceto Sofia.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Alberto

Pensando bem eu não o amo.
Não há nada de diferente nele.
Sua aparência não é a
que mais me atrai.
A conversa é prazerosa, todavia
não é o único capaz disso.
Minha admiração existe, o talento
dele é evidente.
Talvez seja a primavera.
Ele apenas apareceu no desabrochar
das flores, coincidência.
Ele sabe o que falar para mim,
inteligência.
Pensando bem, ele é agradável.
Ele é cordial e refinado.
Seu sorriso até que tem um charme,
pode ser que ele se destaque.
Talvez seja a primavera.
Olhando bem, os olhos são expressivos,
o jeito de falar é eloquente.
Até pode ser que, de repente, ele
me atraia um pouco mais.
Pensando bem pode ser que eu...
Talvez não seja só a primavera.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ah, se conversa bastasse.

Tudo que ela podia oferecer
era uma bom dedo de prosa. 
Não atraia por beleza,
suas roupas eram estranhas,
seu cabelo descuidado
e o sorriso envergonhado.
Sabia que seu corpo não
era um belo postal.
O mais obvio a se fazer nessas
horas é investir no intelecto.
Era boa de conversa, falava
sobre quase tudo desse mundo.
Mas e se isso não fosse importante
para os outros?
Geralmente não era.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Filósofo, meditador e criança.

O céu vermelho da noite não é tão
bonito quanto o avermelhado da manhã.
Já o cheiro...!, ah, o cheiro inebriante;
esta, a pura amostra da arte olfativa.
O odor da manhã se consegue sempre
com a grama, é fácil e não furtiva.
Outra vantagem é a escuridão,
a temperatura também é escura.
Silêncios e ecos existem em ambos,
todavia com caracteres diferentes.
De manhã é o silêncio banalmente
calmo, de alongamento, interrompido
com o despertar da cidade.
O da noite é o mórbido, introspectivo.
O silêncio dos ecos e da criação da
poesia, da música e da dor.
A manhã é uma pessoa tranquila,
noite é um filósofo aparentemente calado.
Já a tarde, é uma criança;
daquelas bagunceiras e cansativas.

sábado, 10 de setembro de 2011

Serpente

Ela era de sangue e traiçoeira.
Não resistia às chances de
sentir-se desejada.
Precisava ser a mais magra,
a mais cobiçada, secretamente.
Os calos alheios não doíam
quando seu ego era inflado;
ela precisava dessa
confirmação de beleza.
Quanto mais magra, mais sem
personalidade e caráter ficava.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O garoto da cidade pequena

Quando eu achava que sabia tudo
o garoto chegava e narrava uma
desventura de interior.
Variava entre sua pequenina cidade
e o interior de suas ideias.
Ele adorava o lago da sua
infância, disso eu sabia.
Ele também adorava tirar fotografias.
O garoto tinha partes de mim, até
aquelas que não reveladas.
Não eram muito frequentes nossas
conversas, mas era como se nunca
deixássemos de falar.
Eu o entendia desentendendo.
Enquanto eu escrevia ele
desenhava os sentimentos.
Eramos dois complicados e
incapacitados, não amávamos.
Mas uma coisa nós sabíamos:
Se um dia fossemos casar,
havia de ser um com o outro.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pessoas

Dou-me conta, hoje, no auge
da minha mocidade que relacionamentos
não são para mim.
Minha mente que é, em demasia, densa,
usurpa minha alma não podendo depois
ser divida.
Nunca amei, mas não posso dizer que
nunca sonhei com isso.
Pessoas normais relacionam-se e até
namoram.
Pessoas como eu flertam à distância
e, mesmo quando belas, não conseguem
concretizar relacionamentos.
A incapacidade de estabelecer
intimidade é evidente e atrapalhada;
incoerente.
As ambições são individualizadas,
o anseio por romance é idealizado.
Existe mais poesia constante que
realidade plausível.
Os sonhos e a insanidade beiram o limite
entre os sentidos e o exterior.
A arte está em tudo, até nos corpos dos
amados; isso quando a repulsa e o medo
da intimidade ainda não se manifestam.
Os calos são mais doidos, as emoções ficam
dificeis de controlar, somos desequilibrados.
Por vezes a parte animal se revela, gerando assim,
a vontade de romance.
Dura pouco, até perceber que as pessoas
decepcionam.
A vida parece insuficiente, mas a ausência dela
deprime em um dia de chuva.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Paradoxo da existência

As vezes a vontade não basta
para mover um corpo estático.
A inércia, por vezes, requer um
força maior do que o habitual.
Então quando o sentimento de
frustração aparece, torna-se
mais difícil o movimento.
A mera existência não é suficiente
no mundo, espera-se ação e reação.
Assim, a agonia aparece, bloqueando
até os pensamentos, deixando
a existência cada vez mais superficial.
Logo não existe mais matéria, não é mais
uma questão de ninguém,
e a massa é um fardo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ácido

Ele está virando veneno,
cada dia mais.
No começo da amizade era
apenas senso crítico e
uma leve arrogância;
agora ele escorre de todos
os modos a acides contida.
A amizade já é por obrigação,
o respeito é por cautela e
o afeto é escasso.
Ninguém continuaria assim,
todavia se mantem por interesse.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Inércia mental

Nada acontece na minha mente.
A música não sai mais,
a música não entra mais.
A distração é constante
e nada disso provem de paixão.
Pensei que era depressão,
não era.
Pensei que era fome
e pensei que era insônia.
Contudo a ideia fixa é
a presença do tédio.
As palavras custam a sair
quando se vê televisão.
O corpo não consegue
tirar-se da inércia do sofá
e dormir é quase inevitável.
O poema vai calejado e o
cérebro um poco reconfortado.

domingo, 17 de julho de 2011

Ensaio sobre o casamento

O desencadeamento desse ensaio fora gerado pelo ressente casamento de uma colega. A jovem ainda iniciava-se na vida adulta, na realidade o que a iniciou fora o casamento. Ela morava em uma cidade do interior e participava de uma igreja, ela e seu namorado. Quando passara no vestibular veio para capital em prol de prosseguir com os estudos, veio sozinha e com uma promessa feita; foi aí que eu conheci a garota. Os meses iam passando e nada da minha colega mostrar-se ansiosa com o casamento, na realidade as provas de percepção musical lhe causavam maior nervosismo do que o aproximar da sua data conjugal. Fora uma coisa que a maioria das pessoas não conseguia entender, esse comportamento acarretava dois pensamentos distintos: o primeiro era que a jovem não amava o noivo e pouco importava o dia, o segundo era que ela já estava tão acostumada com a ideia que não lhe causava insônia. A data chegou, casou-se. Tão jovem, tão acostumada, tão sorridente. O sorriso era involuntário, na verdade era uma risada, parecia que ela ria da situação, não estava entendendo muito bem o motivo da festa. No dia seguinte todos só conseguiam pensa nisto e que a menina religiosa teria perdido a virgindade na noite de núpcias. Isso tudo me fez pensar, como o casamento acontece? Como as pessoas escolhem outras para dividir suas coisas, tristezas e toalhas? E o principal, qual o motivo do casamento? Não é mal dos tempos de hoje, todavia não acredito no amor, esse amor que nos é feito engolir quando crianças, mesmo eu adorando historias românticas. Se não é o amor, qual a razão disso? O que as pessoas levam em conta para decidir que aquela é a pessoa com quem ela vai se casar? No caso dos religiosos é mais fácil, os pais escolhem, o filho aceita e espera amar um dia o cônjuge. E as pessoas normais, sem religiosidade? Qual a sensação de estar casando? Eu jurei a mim mesma que nunca iria descobrir isso, não sou muito fã de ver a mesma pessoa com uma intimidade tão grande assim ao ponto de ao vê-la usando o banheiro juntamente comigo. Entretanto, alguns fatores de praticidade fizeram-me repensar isto. Fora o seguinte: estabilidade. De forma alguma a estabilidade era algo essencial para mim, tanto que música é o meu curso, contudo ter uma base financeira oferece mais segurança para viver. Saber que tem alguém ali preparado para quando você for despedido, isso deve fazer um bem que só. O casamento é uma sociedade empresarial com direito a sexo e demonstrações de afeto que não me agradam. Você deve beijar a pessoa mesmo que ela não tenha escovado os dentes, isto é algo intolerável para mim, eu mal posso com a minha intimidade. Posso entender perfeitamente a teoria das cordas e acordes napolitanos, contudo o casamento é um dos maiores mistérios da humanidade que eu anseio desvendar; sem casar.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

São João de minutos

Era dia de prova e de São João.
No outro prédio a festa se arrastava;
estava jogada às moscas e quentão.
O contraponto adiava a noite do arraial,
e Tereza ainda passava mal.
Até que terminou, meio que a contra
gosto, o último contraponto com uma quinta.
A música da festa comporovava a erudição
do publico, São João é com chorinho.
A festa girava em torno de uma barraca,
a única montada a tempo.
Ô, era alegria que não acabava,
a dança, a pipoca, o quentão,
até o aluno bonito de gravura animava
Tereza.
Escorrengando no sax é algo divertido;
Ernesto tinha que descobrir isto.
Alegria interrompida, o telefone
de Tereza tocando.
Era hora de ir-se embora.



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mistérios sócio-científicos

As pessoas tentam sempre encontrar uma razão maior para as coisas,
sem nem mesmo saber direito o que são essas coisas.
Deus, o Big Bang, o amor; o homem é o único animal que acredita nessas coisas.
Bom, talvez os elefantes tenham outra teoria para a criação do universo
e os seus rituais de acasalamento.
O fato é: desde que o pudor e os valores foram impostos todos nós
seguimos uma busca insaciável pelo grande amor e por desvendar os mistérios
do cosmo. Constantemente atribuímos valores às coisas que nos cercam, possibilitando,
assim, uma futura desilusão quando percebemos que realmente não era o que idealizamos.
Quando falamos de pessoas isso é inevitável.
O amor, sem dúvidas é uma das coisas que mais me intriga. Pessoalmente não
acredito em sua existência, seja ela materna ou conjugal. Para mim nada mais
é que o instinto de proteção da espécie agindo juntamente com a costume à presença
alheia. Em outros tempos eu defenderia veementemente o contrário, todavia,
alguns anos que me somaram levemente à fronte, fazem-me pensar na total irrealidade do amor.
''O amor, l'amour, amore, love'', fora uma invenção coletiva para poder copular
sem sentir culpa por ter necessidades animais. Claro, o ser humano não é um animal,
somos a imagem e semelhança de Deus, não podemos praticar o sexo sem ser
a fim de reproduzir; não podemos querer comer doce, é pecado; por isso que, nós,
semideuses, estamos destruindo o mundo. Mas voltemos.
Minha relação com as outras pessoas sempre foi atrapalhada, quando pequena
eu nunca conseguia fazer amigos, hoje eu não consigo ter relacionamentos.
O pensamento exacerbado é uma coisa que atrapalha. Eu, como humana século XIX
que sou, tendo a negar a existência da minha parte animal, contudo o amor para
mim é besteira. Percebi aos poucos, quando tentava me relacionar amorosamente
com os outros. Falavam ''Eu te amo'', mas nunca saia isto da minha boca; geralmente
estes relacionamentos terminavam pois eu era ''fria''. O ato sexual também é algo
complicado para mim. Minha mente, aquela século XIX, diz-me '' o sexo deve ser feito com
quem se ama'', eu não amo, logo a virgindade é a unica saída para uma mente
cheia de pudores e descrédula. Eu tentei encontrar o amor, de verdade, nunca deu certo.
Em um primeiro momento eu encontrava um macho disponível, analisava fisicamente a
fim de saber se me era atraente, conversava, buscava traços semelhantes de
personalidade e gostos, beijávamos e em um mês acabava. Acabava quando
eu notava que não bastava só gostar do cérebro do meu parceiro. A casca que
antes me atraia começava a ser vista de outra forma; ''os poros dele são
muito grandes'', ''o nariz é oleoso'', ''ele toma banho?''. Essas são
as 3 coisas que geravam o meu afastamento. Muitos devem pensar que é
totalmente supérfluo, mas era apenas eu constatando que não poderia
amar um animal. Sentia repulsa quando percebia que eles
sentiam vontade de copular comigo. Se o amor é algo tão grande e transcendental,
precisa sobreviver na forma de sexo? Não consigo viver essa vida
pensando que sou apenas um animal, eu sou pensamentos. Mesmo o amor
sendo uma idealização e mentira social é um pensamento incoerente e nada aplicável,
logo descarto esta teoria. O amor não existe, por favor não me provem
o contrário.
Em relação ao universo não tenho muito o que acrescentar, mas quando
eu terminar o curso de física moderna que pretendo iniciar um dia, falarei
mais sobre o assunto.
Agora, Deus? Digo apenas uma palavra: ENERGIA.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Relações estreitas

Não era traição, mas ele sentia como se fosse tal coisa. Não a amava, muito menos amava a sua professora, mas a relação entre as duas lhe incomodava em demasia. Ela, Julieta, era beneficiada de todas as formas, suas qualidades também eram exacerbadas pela, não tão velha, professora Alice. Algumas más línguas já diziam que se tratava de interesse sexual. O fato era: Alice presenteava, ajudava, contemplava e roubava para Julieta de forma nada ética. A predileção era evidente e anunciada para os outros alunos. Ele fazia parte da turma e era o melhor amigo de Julieta; todavia o ego da mesma era tamanho que compactava a já restrita auto-estima do jovem amigo. Ele sentia como se fosse um intruso no mundo, que, discretamente fora construído pelas duas. A troca de cartas entre Alice e Julieta fazia com que o jovem se desfizesse; a agonia era tanta que ele sentia vontade de gritar, rasgar todas as coisas, e machucar a todos. Ele, em outro momento, tentara uma aproximação com a sua professora, no entanto fora falha. Aconteceu no aniversário de sua maturidade. Elas estavam lá, mas se fecharam em um pequeno grupo social. Ele sofria todos os dias, chorava os calos da vida social e de sua subjetiva
falta de capacidade. A opção de silêncio que fizera provocava-lhe falsos sorrisos na presença de Alice, falso bem estar na frente de Julieta, e, também, a sua prisão interna de melancolia.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Cachorros bípedes

Estava na sala de aula,
observando.
Não só apenas a aula,
Mas todas as peças
que a compunham.
É engraçado observar as pessoas.
Somos os animais mais adestrados
que existem.
Punimo-nos, agradamo-nos
e mentimos por um osso.
Somos cachorrinhos, nem sempre
com pedigree, de nós mesmos.
Na tal aula não corria diferente.
Quando algo era chiste, cada um dos
animais humanos procurava um
outro para cruzar o olhar e rir em conjunto.
Quando algo surpreendia o mesmo acontecia.
Pude notar o quão carente somos, e também
o quão ‘’cachorrinhos’’ acabamos ficando.
Não gosto muito de cachorros.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Síncope

Segurava-me
por mais um compasso.
Então, meio torta e,
até dissonante por horas,
eu ficava soando.
Às vezes eu notava que
eu começava a desaparecer,
suavemente.
Tudo ao final de mim se
resolvia, eu já não
estava mais lá.
Segurava-me em outro compasso.

sábado, 14 de maio de 2011

Transparência existencial

E eu sou invisível no
meu próprio mundo.
Não sou tão esforçada
quanto a Gizele,
não toco tão bem
como O Artur
e não tenho talento
como a Lígia.
Minha fala é,
em demasia, atrapalhada.
Minha auto-estima
é totalmente destroçada.
Não tenho o sorriso do Flávio,
não tenho o corpo da Elis.
Eu não tenho,
eu não sou,
eu lamento,
eu ainda não sou o meu autor.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Idéias de papel

Não é ausência de idéias,
é a confusão das mesmas.
É a mente inquieta e o
corpo mole que descompensa.
Os braços choram
enquanto a poesia satisfaz.
As mãos se quebram e
a harmonia se refaz.
Uma folha vazia se enche
de universos, e o corpo, lento,
adormece por completo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Maestro

Shiiiu, vai começar.
Mãos erguidas e o um.
Infesta tudo de sons;
respira, toca, solfeja.
Os fraseados nos braços,
dois, três; sopra o vento.
Os ataques nos olhos,
áspides acordes.
Corre suave,
gestos gentis.
Todos já sabem;
fermata.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Perder

Eu tinha poucos amigos no colégio,
poucos e que me faziam rir muito.
Nunca fui o tipo de pessoa que
ia falar com as outras, que
telefonava e pergunta ''Como vai você?''.
Eu sou a amiga que ninguém
precisa ter, aos poucos
foram notando isto.
Eu sou amiga que não
vibrava muito com a sua alegria,
que não chorava com tristeza.
Mas, talvez, fosse a amiga
mais leal e verdadeira.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mercenária

Denise nunca sentira amor.
Tinha orgulho disto e ostentava
a todo instante.
Namorou com poucos homens,
achava o mundo repugnante.
Denise era tão estranha que
se dizia metafísica.
Ela se apaixonava por pessoas,
mas apenas por aquelas críticas.
Talvez fossem os cérebro que
cativassem Denise, os cérebros alheios.
Desgostava muito fácil quando
percebia, dos namorados, os anseios.
Quase sempre cogitava
morrer virgem e solteira.
Todavia era esperta e sabia:
"Preciso pensar na minha
situação financeira."

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Lembranças de alguém

Tenho saudades de mim,
do tempo em que eu escrevia;
o tempo em que o tempo
para mim se estendia.
Aquele cheiro de bolo
que eu devorava por inteiro,
o colo infantil e sem nenhum lamento.
Meus pés corriam para brincar,
os mesmos pés hoje ainda correm
para não se atrasar.
Tenho saudades de mim,
de quando eu me conhecia,
saudades de saber o que eu queria.

sábado, 5 de março de 2011

Tudo que você gosta.

Então você percebe que cresceu,
está na faculdade e tem idade para beber.
Aí você percebe, depois de alguns dias,
que tudo que você queria era voltar no tempo.
Suas obrigações te roubam inteira.
Você está cansada.
O seu dever é ser a melhor no que você gosta,
mas, sem conseguir isso, você se quebra.
Aquele seu piano que reluzia sua fuga da química,
se apaga nas tentativas de fuga de Bach.
Você foge de Bach.
Você ainda gosta de tudo que gostava,
você ainda sonha tudo que sonhava.
Então, querida, qual o problema?
O problema é ver que não é a unica com talento?
Se achar sem talento?
O mundo cobra mais de você ou você se cobra muito?
Você não sabe até onde tem que ir para ser boa.
Todos a sua volta são incríveis
mas você é só aspirante.
Você não brilha mais e
o mundo se escurece depois dos sonhos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Conclusão

Percebi que sou triste.
Não foi algo inemaginável,
contudo fora negado.
Irrefutável esta condição
de solidez deprimida.
Apenas, se,
com momentânea alegria.
É rara esta situação
Percebi, além disso,
teimosia de pensamento.
Pensamentos que me atormentam
e eu continuo pensando.
Não é sem querer que penso.
Percebi que sou triste,
mas de cuja tristeza
estável e ,de mim, antiste.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Poema Prostrado.

Um caco de vidro quebrado
O quebrado vidro, um caco.
O vidro, um caco, quebrado.
Um vidro, o, quebrado caco.

Um caco de vidro q
u
e
bra
d
o caco.

Conflitos embaçados

Pode ser que eu esteja errada
com essa certeza tão veemente.
Mas o que é o errado se não
o certo invertido?
Tenho certezas de espelhos.
Espelhos curvos, planos e
inexistentes.
Tenho tantas verdades
sinuosas quanto verdades
mentirosas; contudo
verdades são.
Sou axiomas refletíveis
e de transparência duvidosa.
Verdades que quando se rompem
dão-me 7 anos de azar
e cacos quebrados.

O doce

O doce está lá.
Imóvel, indesejável e desejável.
São poucos passos
até ele deixar de estar.
Eu teimo e ele continua.
Imóvel, indesejável e desejável.
Nessa hora minha mente
já deu todos os passos precisos.
Sua imagem aguça meus instintos.
O que me faz resistir?,
é um inofensivo doce.
Eu permaneço indesejavelmente
para não alcançar o desejável.
Não é masoquismo.
Mas, ceder será a prova
de que o mais inofensivo dos doces
é nocivo para mim.
Eu o desejo e ele continua parado,
tentando-me a dar os tais passos.
Eu permaneço.
Permaneço ansiando o açúcar.
Eu permaneço.
...

É nocivo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Manual

Alguém me diga, por favor, o que eu devo fazer.
Alguém me diga, por favor, como devo me portar.
Soprem, então, uma receita de como ser.
Escrevam, para mim, uma forma de alegrar.
Despida, assim, nua e crua é tão errôneo,
fraco, suponho.
Alguém me grite, por favor,que tudo é normal.
Tudo vai ficar bem, que é uma dor convencional.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cotidiano versos brancos

Mas como pode ser

perdendo esses versos?

Como pode ser?,

fugindo e sem os restos.

As palavras não encaixam.

Céus, não encaixam

Cerebro revirado.

Como escrever

sem sentimentos?

Como pode ser?,

sem lamentos.

A poesia incompleta

em rimas tanto fracas.

Poesia incompleta

casual, desengonçada.

Samba-rock

Quando a conheci

usava sapatos vermelhos,

vermelhos como sua boca

e de tão negros cabelos.

Ria com deleite

da vida que gozava.

Você urgia prazer

e eu urgia sua alma.

Contava suas histórias

de viagens e amores,

eu escutava e planejava

te conquistar lhe dando flores.

Você tinha as unhas amarelas

e uma camisa de banda.

Eu não sabia quem eles eram

pois eu só escutava samba.

Eu era bossa nova,

você era rock'n'roll.

Um samba rock sem chorinho

era agora o nosso som.

Desventura de Fridda

Fridda era viciada em besouros e borboletas. Todas as
sextas ela saia com seu pote e sua vara para pegar,
olhar e devolver os bichinho. Seu quarto era recheado de fotografias
de borboletas de várias cores, tamanhos e tipos,tamanha era sua paixão por elas.
Certa sexta-feira, fazendo o que ela sempre fazia, pegou
uma borboleta azul clarinha, linda e brilhante. Resolveu gastar horas olhando a pequenina. Depois de quase 3 horas, começou a conversar com ela. Fridda poderia
estar exausta, drogada ou maluca; até onde a ciência sabe, não é normal travar diálogos com outras espécies.
-Olá Fridda!
-Como sabe o meu nome? Você fala?- perguntou para a
borboleta, com uma cara de susto e ao mesmo tempo
fascinação.
-Eu só posso falar com você- disse baixinho- Mas, por que você
me olha tanto?
-Você é tão bonitinha, não é uma borboleta qualquer. Por
falar nisso, qual o seu nome amiguinha?
-Chamo-me Jamille! Obrigada pelo elogio, gostaria de
conhecer minhas irmãzinhas?
-Adoraria.
Jamille foi na frente, guiando Fridda no meio da mata.
Ela já estava tonta pelo brilho da borboleta, mas, seu
corpo era obrigado a seguir aquele feixe de luz azul
clarinha.
Foram indo cada vez mais para o meio da mata. Até que
chegaram em um precipício.
-Venha Fridda!- disse a borboleta
Sem exitar, já hipnotizada pelo encanto da sua nova e duvidosa amiga,
ela foi. Botou seu pé para fora na grama e caiu.
Não chegava ao chão, as cores se misturavam, a borboleta
cantava e ela apenas sorria, sorria para a morte.
- Talvez besouros sejam mais leais. - Disse pela última vez Fridda.

Alma de piano - prévia.

Então caia mais um floco de neve que regava o inverno. O chão estava coberto por inteiro e o conservatório de música fechava para o natal. Any, era assim que todos haviam me apelidado, proveniente de Anya. Eu descia correndo a grande escadaria central de madeira tentava alcançar meu professor de harmonia: Chekhov. Era um homem que se vestia de maneira muito pomposa, sempre com um belo par de sapatos e um relógio de bolso, sua aparência séria era resultado de uma alma fechada e erudita: um homem muito elegante e de tez extremamente clara. Bom, digamos que este mesmo senhor não possuía muita simpatia por mim, não devido a minha aparência, mas sim pelo meu perfil muito contestador. Fisicamente eu era até simpática; cabelos ruivos e ondulados, mantidos sempre curtos, algo extremamente ousado tendo em vista que todas as outras mulheres possuíam cabelos que lhe vestiam os ombros; minha cor era clara e avermelhada devido ao frio intenso; olhos cor de mel que brilhavam o tempo todo.

-Mestre! – exclamei ao chegar ao final de um lance de escadas. O senhor Chekhov apenas virou os olhos com um leve movimento, como se não lhe interessasse saber quem lhe chamava.

-Céus, o que foi desta vez senhorita Sierakowski? – disse ainda virado para frente.

-Eis aqui minha composição... Aquela que havia perdido em meu caderno durante a aula.

-O prazo para me entregar era até o termino da mesma, sabes disso, por que abriria uma exceção a esta regra ainda mais para a senhorita?

-Pois o senhor sabe que sou uma aluna extremamente dedicada em aprender canto e eu adoraria ter um histórico acadêmico impecável!- falei ao esboçar um sorriso de sarcasmo em meu rosto.

-Sei muito bem... Por isso mesmo dar-te-ei uma chance de desfrutar de seu anseio não almejado. - exclamou a virar-se totalmente e descer as escadas enquanto ria quietamente.

Não conhecia muitas pessoas ainda no conservatório, mesmo estando lá a cerca de dois anos. A maioria eram rapazes, nada mais natural, só conversava com minha irmã durante o ano letivo, minha mãe não autorizava amizades masculinas. Seu nome era Lubmilla, cursava piano: ela tinha o cabelo castanho que descia aos seios e chegavam-lhe a cintura, pele um pouco mais amorenada que a minha, olhos escuros e amendoados. Seu maior sonho era tornar-se uma bailarina, porém havia idealizado muito tarde. Lubmilla era mais fácil de lidar do que eu, porém era um tanto mimada por ser a filha mais nova. Ela era a mais bela, a mais querida entre a maioria das pessoas, respeitava as vontades de meus pais, no entanto, quando soube que eu havia conseguido convencer nossa família ao autorizar a minha entrada no conservatório de música, fez o mesmo iniciou um ano depois. Lubmilla era um bom partido.

-Lubmilla!-gritei ainda da escadaria para minha irmã que passava perto.

-Any, o que queres?

-Minha irmã, já arrumou suas coisas?

-Ainda não, mas estava indo fazer isso nesse instante.

-Sabes que o conservatório vai fechar ao final do dia, e agora já passa das três horas.

-Sim, mas mudando o foco da conversa, conseguiu entregar sua composição a Chekhov?

-Aquele senhor é um crápula, deu-me uma resposta desaforada e saiu andando.

-Achas que não alcança um bom resultado?

-Não sei, tudo depende do humor de Chekhov. Pois, vamos agora, Dominique estará nos esperando em casa!

Lá estávamos nós, duas irmãs muito diferentes descendo as escadarias grandiosas do conservatório enquanto puxávamos, empurrávamos e carregávamos nossas pequeninas malas. Todos estavam se despedindo entre os corredores, a maioria das tochas que iluminavam o ambiente já estavam sendo apagadas pelos funcionários do local: era a maneira gentil e eficaz de expulsar a todos.

-Ali Lubmilla, chame aquela!- falei ao apontar uma das últimas carruagens que restavam.

-Senhor!- gritou minha irmã ao fazer sinal com a sua mão - Aqui!

-Mas o que duas moças fazem neste conservatório de música recheado de rapazes?- foi a primeira coisa dita pelo chofer.

-Música, senhor! Eu estudo canto e minha irmã piano.

-Nada convencional, minhas damas.

-Por isso que é tão fascinante. – retruquei-lhe ao bater a porta de sua carruagem.

Calma brisa

O céu vai se arrastando e
pensamento vem sem fim.
As nuvens correm brandas
para mim sempre assim.
O vento carrega o cheiro
imaginado de meu bem,
numa brisa tanto densa
e meu peito vai além.
Voa longe, vai planando,
sentimento voa daqui.
Sem vestígios ficam os sonhos
que guardava para mim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A jovem escritora

Ela era uma alma jovem, com timidez.
Foi o medo que recolheu seu estoque
e se escondeu em uma gaiola imaginária.
Triste menina, vivia na sombra das canções.
Retirou-se ao mostrar o seu mundo
e mostrar como ele funcionava.
Ficava em último por se colocar em último.
Sombria de pensamento, pessimista,
era horrendo.
"Mas como entregar-me à vida?
Mas como este, sem talento?
E como, por fim, suportar a ausência
do que anseio? Como enfrentar tudo sem poder?
Fico escondida, sonhando com o dia em
que alguém mostrará para mim que sou boa.
E espero esse dia, até a noite em que eu morra."

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Meia idade de Antônio

Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, sem emprego.
Seu sustento era a mesada modesta que ganhava de sua mãe, uma funcionária pública.
Todos os dias ele fazia as mesmas coisas: acordava, tocava seu piano velho e desafinado,
lia sobre coisas que ninguém mais queria ler e dormia assistindo televisão.
Já tinha tentado a faculdade quando mais moço: faculdade de música. Na época passara quase
na última posição. Seu desespero surgiu junto com a mocidade. Ele até havia atraido algumas garotas, principalmente suas amigas, contudo, não havia amado ninguém. Existiu apenas uma moça que tinha despertado um estranho sentimento em sua seca alma: Luíza. Ah, Luíza era tão inteligente, não tão bonita, mas com olhos azuis que só vendo. A jovem era muito parecida com Antônio; era maravilhoso, todavia era um problema. Antônio e Luíza gastavam horas discutindo sobre astrologia, artes, música e até política. Era esse o maior charme da relação, eles adoravam. O que o jovem dizia era contradito por Luíza, assim ambos se conheciam e conheciam o mundo. Ele dizia que amava, mas achou um dia que deixou de amar,
para no outro dia dizer que nunca amou. Ela dizia que não amava, mas achou um dia passou a amar, para depois dizer que nunca amou. Luíza se formou, conseguiu grandes amigos e uma família. Antônio largou a faculdade e largou todas as mulheres que enamorou. Sem dúvidas ele amava a música, mas também amava as artes visuais; o grande dilema de sua vida foi decidir qual seguir. Era ambicioso aos 20, mas a insegurança fez com que deixasse tudo de lado.
A criatividade e o pouco talento que possuía foram se ofuscando, dia após dia. Veio a nostalgia.
Certamente isso impediu com que ocorresse o amadurecimento natural da vida. Antônio se dizia feliz como estava, sem mulher para dar-lhe ordens, sem um emprego para dar-lhe trabalho e sem filhos para dar-lhe dividas. Realizara quase todos os seus sonhos de jovem, exceto a carreira profissional. Sonhara em ser maestro, mas teve dificuldades no período que cursou faculdade e medo de não conseguir. Então Antônio parou em frente ao piano desafinado e tocou desafinadamente. Sonhou.
Seu sonho no momento foi: como seria sua própria vida com uma mulher, poderia ter sido Luíza.
Também pensou nos filhos que teria com ela, de grande alvura e belos. "Poderia ter sido bom", exclamou.
Então Antônio lembrou do seu maior sonho, o sonho de ser maestro. Foi tão lindo o que ele imaginou em frente ao piano que pôs-se a chorar e tocar uma música de Debussy. Percebeu que vida medíocre ele tinha construído.
Seu Antônio era um homem de 40 anos, criativo e sozinho, que se jogou da janela do sétimo andar depois de tocar uma sonata.