terça-feira, 7 de julho de 2015

Perspectiva

Foi nesse dia de céu cinza que uma senhora talvez simpática sentou-se ao lado de Monique. Dona Lucíola, 65 anos vividos. Gostava de conversar com desconhecidos pela rua para ver se algo interessante lhe surgia na vida. Sentou-se ao lado da pensativa Monique e pôs-se a falar:
-Mas que tempo esse, não? Não tem como ser feliz em uma cidade onde nem o Sol aparece.
                Monique estranhou essa reclamação autônoma que interrompeu seus pensamentos, mas, educada, decidiu responder:
-          Mas só por existir dias cinza que sabemos apreciar um dia ensolarado, não acha? - questionou a jovem.
-          Tens razão...
Dona Lucíola calou-se com a lógica irrefutável de Monique. Como pode alguém soltar algo tão pesado e denso em uma situação informal? Lucíola não estava preparada para isso, não estava preparada para pensar por si e para si. Assim como o dia, sua cara escureceu e logo se passaram alguns minutos de silêncio para que Monique percebesse que havia calado alguém sem intenção.
-          E... Será que teremos sol nesse final de semana? – Monique tentou retomar.
-          Talvez, independentemente disso ficarei em casa, como sempre, sozinha, como sempre.
-          Não me parece a melhor opção para um final de semana.
-          Consideramos “opção” quando não há nenhuma outra perspectiva?, menina...
-          Monique, senhora, Monique.
-          Isso, menina Monique?
Desta vez, então, quem calou foi Monique. De fato nunca havia ponderado tal questão. Para ela toda e qualquer coisa possuía milhares de tangentes lógicas, como então não haver opção? Pôs-se, assim, a pensar como seria a vida onde a realidade seguisse por uma linha reta, uma única linha. Dessa forma, qualquer pedra poderia estacionar o tempo, cobrir todo o caminho pela frente. “Se eu fosse essa pessoa a quem a vida segue em uma triste linha reta e, por azar, esbarrasse numa pedra, certamente não veria opções. Mas, um momento... eu teria como retroceder, ou a vida me faria congelar? Não, a pedra só está na frente.”
- Não concorda? – perguntou a Lucíola depois de esperar a resposta de Monique, que aparentemente havia a abandonado para conversar consigo mesma.
- Ah, sim. Não, não, me desculpe, mas tenho que discordar.
- Discordar? – perguntou Lucíola curiosa.
Monique creu que justificar-se com todos os seus argumentos seria a forma errada de expor sua discórdia, o mais esperto seria apresentar-lhe outro ponto de vista para o seu final de semana:
- Sim, discordo já que a senhora e eu tomaremos chá no sábado.
Lucíola rio gentilmente e sorrindo respondeu:

- Mas que jovem abusada. Obrigada. 

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