Foi nesse dia de
céu cinza que uma senhora talvez simpática sentou-se ao lado de Monique. Dona
Lucíola, 65 anos vividos. Gostava de conversar com desconhecidos pela rua para
ver se algo interessante lhe surgia na vida. Sentou-se ao lado da pensativa
Monique e pôs-se a falar:
-Mas que tempo
esse, não? Não tem como ser feliz em uma cidade onde nem o Sol aparece.
Monique estranhou essa reclamação autônoma que
interrompeu seus pensamentos, mas, educada, decidiu responder:
-
Mas só por existir dias cinza que sabemos apreciar um dia ensolarado,
não acha? - questionou a jovem.
-
Tens razão...
Dona Lucíola
calou-se com a lógica irrefutável de Monique. Como pode alguém soltar algo tão
pesado e denso em uma situação informal? Lucíola não estava preparada para
isso, não estava preparada para pensar por si e para si. Assim como o dia, sua
cara escureceu e logo se passaram alguns minutos de silêncio para que Monique
percebesse que havia calado alguém sem intenção.
-
E... Será que teremos sol nesse final de semana? – Monique tentou
retomar.
-
Talvez, independentemente disso ficarei em casa, como sempre, sozinha,
como sempre.
-
Não me parece a melhor opção para um final de semana.
-
Consideramos “opção” quando não há nenhuma outra perspectiva?, menina...
-
Monique, senhora, Monique.
-
Isso, menina Monique?
Desta vez, então,
quem calou foi Monique. De fato nunca havia ponderado tal questão. Para ela
toda e qualquer coisa possuía milhares de tangentes lógicas, como então não
haver opção? Pôs-se, assim, a pensar como seria a vida onde a realidade seguisse
por uma linha reta, uma única linha. Dessa forma, qualquer pedra poderia
estacionar o tempo, cobrir todo o caminho pela frente. “Se eu fosse essa pessoa
a quem a vida segue em uma triste linha reta e, por azar, esbarrasse numa pedra,
certamente não veria opções. Mas, um momento... eu teria como retroceder, ou a
vida me faria congelar? Não, a pedra só está na frente.”
- Não concorda? – perguntou a Lucíola depois de esperar a resposta de
Monique, que aparentemente havia a abandonado para conversar consigo mesma.
- Ah, sim. Não, não, me desculpe, mas tenho que discordar.
- Discordar? – perguntou Lucíola curiosa.
Monique creu que justificar-se com todos os seus argumentos seria a forma
errada de expor sua discórdia, o mais esperto seria apresentar-lhe outro ponto
de vista para o seu final de semana:
- Sim, discordo já que a senhora e eu tomaremos chá no sábado.
Lucíola rio gentilmente e sorrindo respondeu:
- Mas que jovem abusada. Obrigada.
Um sorriso é mais belo quando é o menos provável.
ResponderExcluirGK